sábado, 1 de novembro de 2025

Governo Lula decide criar tipo penal de 'facção criminosa' em projeto de lei que mira o Comando Vermelho e o PCC

Texto foi assinado hoje pelo presidente da República e enviado ao Congresso Nacional


Por Eduardo Gonçalves  — Brasília

Os integrantes do governo Lula decidiram acrescentar no projeto de lei, assinado e enviado ao Congresso Nacional nesta sexta-feira, o tipo penal de "facção criminosa". Nesse ponto, membros de grupos como Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital seriam enquadrados no crime de "organização criminosa qualificada", que prevê pena de até 15 anos de prisão, podendo chegar a 30 se houver a qualificadora de homicídio.


Em reunião no Palácio do Planalto, ficou decidido que os novos mecanismos de investigação, como infiltração de agentes, uso de colaboradores e até criação de empresas fictícias, só poderão ser empregados no caso dessas facções e não em organizações criminosas genéricas. Para esse tipo penal, a medida também estipula o perdimento antecipado de bens.

Ao assinar o projeto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que o combate às facções é uma prioridade da sua administração. — Nós vamos mostrar como é que se enfrentam essas facções, que vivem de explorar o povo mais humilde desse país — disse ele. A declaração ocorre na mesma semana em que uma megaoperação do Rio deixou 121 mortos e 113 feridos. A ação realizada pelas Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro visava capturar integrantes do Comando Vermelho, que instalaram as suas bases nos complexos da Penha e do Alemão.


Além do presidente Lula, participaram da audiência o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o secretário executivo da pasta, Manoel Carlos de Almeida Neto, o advogado-geral da União, Jorge Messias, o ministro da Defesa, José Múcio, e o ministro-chefe das Comunicações Sidônio Palmeira.

Eles chegaram a um consenso de que é preciso destacar que a lei visa endurecer as penas para facções em contraposição à proposta da oposição que quer classificar o CV e o PCC como organizações terroristas. Os membros do governo Lula acreditam que essa definição pode levar o Brasil a ser alvo de interferências externas e sanções de organizações internacionais. Isso porque alguns países possuem barreiras para investimentos em nações que abrigam grupos terroristas.

Encampado por governadores e parlamentares da oposição, o projeto de lei equipara facções criminosas a organizações terroristas e ganhou força na esteira da megaoperação do Rio.

Para ser enquadrado na atual Lei Antiterrorismo, de 2016, é preciso haver uma motivação que envolva xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião. A proposta agora inclui nesse rol de razões a "imposição ou domínio ou controle de área territorial, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública". Esse ponto visa enquadrar membros de facções criminosas, que ficariam submetidos a uma pena de 12 a 30 anos de prisão.

Esse exercício de "domínio territorial" também está previsto no projeto antifacção como um agravante ao crime de "organização criminosa qualificada", o que acarretaria no amento da pena de dois terços ao dobro.

No projeto do governo Lula, também há previsão de que a Justiça afaste do cargo público o servidor que tenha ligações com "organizações criminosas qualificadas" e "milícias privadas". No caso de empresas, há a possibilidade de intervenção jurídica. A proposta ainda cria o chamado "Banco Nacional de Facções Criminosas", que reunirá informações sobre faccionados de todo o país.

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